quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Meninas de saia

E eu não sei se são as horas que correm vagas
Ou se é o vazio das horas que corre atrás dessas meninas
Essas meninas que correm sei lá atrás de que
Essas meninas que quando giram deixam cheiro de mato doce
Essas meninas que são todas feitas de rabos de saia
Eu não sei o que essas horas fazem com quem fica lá da janela
A escutar o que se perde entre a bola narrada no rádio
E o cantarolado das meninas de saia

domingo, 14 de dezembro de 2008

Sonhos de final de semana

As vezes penso que é meu anjo de guarda que sente falta do seu
E vice-versa
Porque quando penso que tudo passou mesmo
Vem você novamente em sonho me dizer que está viva
Vem você assombrar minhas memórias
Eu que já lutei tanto pra te deixar pra trás
Eu que tenho me esforçado pra simplesmente viver minha vida do meu jeito
Tenho que te aturar agora me lembrando como era bom o seu beijo
Como era bom enfiar todos os dedos por baixo do seu cabelo
E como é difícil acordar lembrando que de tudo isso, só restou o desejo

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Prometo mudar antes do verão passar

Eu vou abrir um sorriso leve
No dia em que não notar seu vestido amarelo quando você passar
E vou passar sem tropeçar na calçada
Quando não precisar pensar em algo rápido pra te dizer
Não vou mais parecer tão tímida ou embaraçada
Quando te der bom dia sem vacilar
Eu vou saber todas as letras ditas sem precisar ensaiar
E vou embora sem decorar seu "oi" descompromissado
Sem repetir tortuosamente no pensamento cada movimento dos seus olhos
No dia em que te esquecer, prometo que tomo seu café
Passo ai na sua casa
Pra te dizer que gosto de você, mas já não sinto mais nada
Só não deixe o café esfriar
Nem deixe de me convidar até lá.

sábado, 22 de novembro de 2008

Eu não tenho uma Maria Rosa

Tem bem menos poesia o que eu te escrevo com meus olhos
Do que poesia feita à mão com capricho
Mão caprichosa que muito se importou em escrever
Mas que se limitou em te tocar.
Este sim, o poema mais belo que poderia lhe fazer.
Tivesse eu escrito no seu corpo
Com toda a inspiração do tato,
Não te deitavas hoje em outro leito
Nem eu gastava sentimento em letra.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Um carinho assim...

É quando se olha com muito cuidado que se percebe
Que independente de ser outono ou não
Toda árvore deixa algumas folhas no chão
E que quando o frio aperta na barriga,
A gente quase não nota um ventinho leve soprando no ouvido
Do mesmo jeito que quando o sol bate forte demais,
É quase impossível perceber que quem guarda o corpo é a sombra
E sem pedir muito mais, sem pedir nem mais meio minuto
Eu fico ali do canto
Eu fico sendo a folha que está para cair
Eu fico sendo o vento cheirando seu cabelo
Enquanto você se distrai com as manias alheias
Eu fico sendo a sombra que te guarda enquanto você se bronzeia

sábado, 15 de novembro de 2008

Tarde, cinema e pipoca

O dia mais solitário da minha vida teve sol
Teve vento na cara e qualquer coisa com o gosto doce de pudim na minha boca
O dia mais solitário da minha vida foi azul, não cinza
As pessoas passavam por mim sorrindo todas suas felicidades
As verdades tinham o mesmo gosto, meio doce e meio amargo
E as crianças continuavam gostando de bala de maçã verde e piscina
O ônibus passou atrasado, como sempre
Eu me esforcei pra esconder minha amargura quando precisei ceder assento a uma senhora
A temperatura ficou amena, sem previsões de chuva
Tudo seguia a mais perfeita ordem universal
E eu simplesmente acordei só.
Sem dramas, sem café, sem radiohead
Só.
Assim como a palavra é só.
Assim como tudo tem que ser como é.
A solidão é o que é. Não precisa dos floreios mórbidos da tristeza.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O amor do bobo pelo lobo

Ninguém pode ser mais carinhoso
Nem mais forte, nem mais doce, nem mais vil
Ninguém pode ser mais profano
Do que o lobo esguio que ama pela pele, pelos poros
Ninguém pode ser mais vulgar
Do que os que enfeitam o amor com mel e laços
Com palavras tão belas quanto ocas, quanto falsas
Que se vestem tão bem em sonoros disfarces
Que sede é essa que sente quem engana?
Que só bebe o que chora o bobo da corte
Quanto vício em decepções
Ninguém pode ser mais triste e nem mais insano
Do que o bobo que deu o pescoço como prêmio
A quem só ama com coração de pano

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Segundo todo clínico geral, o que a gente tem é virose

Quando a planta murcha e a gente continua comendo na mesa em que jaz o arranjo
Quando tudo que bate na gente é qualquer coisa, menos o coração
Quando a alma se sacode toda enquanto dorme o corpo
Quando o peito parece doer ao mero pressentimento de partida, mas não importa
Quando há que se buscar um remédio pra sei lá o que
Quando só o que agrada os ouvidos é aquela voz de dor de estômago e rouca
Quando a poesia de quem veste jeans barrento e não penteia cabelo é bonita
Quando a voz que dá bom dia está no pensamento e não ao lado
Quando o fim de tarde se veste para finados
Quando as cordas de violão estouram em lua cheia
Quando não há como terminar um poema mal começado
Vai passar, é virose

domingo, 2 de novembro de 2008

Interface

Existem dois tipos de agora
O que é contado pelos sentidos
Pelos pólos positivos e negativos
Pelos ruídos loucos
Doidos, vagos, embriagados
Dos sentimentos que têm medo do espelho
Que têm medo do medo
Que têm medo de se olharem e verem o pólo oposto
Assim foi quando o amor se viu na cara do ódio
E a calma no olhar do desespero.
O outro agora é dono dos dias que não existem
Do dia dos sentimentos rebelados
Que atiram seus espelhos pelas paredes
Que não tem mais nada que ver
A não ser o agora
Que não existe
Que nunca existiu
Nunca existiu
Nunca existiu
.
.
.
Sumiu.

03:30

Depois que a madrugada já tiver feito sua metade
Não há de sobrar um que não ouça
O uivado frio do lobo solitário
Até mesmo a trupe boêmia de gatos pretos
Há de deixar a malandragem pelas tabelas
Pra entender o que se passa
e por que de repente o tempo ficou tão frio
Dali a sete meses ele estará de volta
Pra mostrar que é senhor das horas não contadas

sábado, 1 de novembro de 2008

O dia que o céu chora

Céu nublado é casa vazia
É caminho pra destino ora torto, ora insosso
É morada de um agora vacilante
Dos errantes que têm medo da certeza
Céu nublado é da tristeza realeza
É Céu de quem tem saudades e não volta
De quem tem raiva e luta contra o perdão
Céu nublado é pra quem olha para baixo
Tem um vaso na janela
Esperando o céu abrir
Rosa vermelha não dá bom dia a céu apagado

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Rotina de um coração amarelado

É como conhecer o som da porta batendo
E não se preocupar com o silêncio que vai ficar depois
Assim, como quem anda sem prestar atenção nas pedras
Nem nas folhas que caíram ou que continuam rejeitando outono
É assim como saber ao certo onde anda o sapato
Não ter sorriso e nem pesar ao olhar retrato
E receber a saudade com indiferença
E não morrer de fome e nem de sede
É ter certeza da luz apagada pra dormir
O amor pode ter passado e dado bom dia
Enquanto eu ainda dormia.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Conte até três e prenda a respiração

É que se eu resolver vacilar agora
Vou ter que virar duas
Pra dar conta da minha choradeira
Que é chorada com olhos secos e alma molhada
Sentimento não tem fachada
Sentimento exposto é a outra cara dada
Melhor guardar o que se sente
Entristecer só por dentro e mostrar a risada
Que é assim que se guarda a hora de sorrir pra fora
Risada boa é risada que se dá calada

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Bom dia

Era dia de germinar uma semente qualquer
Mas o Sol levantou sem saber se era Confúcio ou Clarice
E muito cedo os cães já latiam feito covardes
Varrendo poeira e assustando as aves que mal haviam despertado
Logo o tempo nublou e os gatos tinham preguiça até para vadiar
O sino da Igreja ficou calado
A beata dormiu na porta do bar com o marido embriagado
A virgem da cidade queimou o último vestido branco
Era inverno e vinha tempestade
Fosse verão, a varanda amanheceria com geada
Ainda que o temporal viesse sem vento,
Ainda que todo o pó fosse molhado,
Todos agiam como se nada tivesse se passado
O amor fez sua farra, foi embora, deixou suas marcas
E ninguém havia notado que ali, a felicidade não fazia mais sua morada

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Agosto

Corre e solta a sua pipa
Já vem vindo o temporal
Solta agora que o vento é forte
Se passar, não adianta mais
Corre e solta a sua pipa
Carretel enrolado não faz história
Pouco importa a tempestade
Sim, a pipa voa e não volta
Não te inquietes, não chore
Que a chuva também morre

Só de passagem, não quero mais saudades

Foram noites desperdiçadas sem dó
Seu rosto - e um gosto que não sei lembrar - eram minha morada
Eu fui o que não sou por dias a fio
Lá na frente,
Cansada e sem rumo,
Atinei para uma triste realidade:
Quando muito, fui parte apenas de sua saudade
Agora quando canto, evito refrões
Mudei minhas roupas, meus gestos, minhas falas
Acho que voltei a ser eu de verdade

Antes e agora

Só sei ser dois se tiver a medida certa do que é um
Se acabei e comecei, enfim, tudo tem início e fim
Sou apenas aquilo que é meu
Se o que vês é melhor do que isso,
Criastes outro eu para ti
Somos feitos de distâncias
Encurtá-las é tentar viver

Quem avisa, amigo é

“Eu já havia lhe dito: esse mundo não é para você”
Não se diz isso a ninguém
O que não se pode fazer é prometer que isso aqui é um lugar seguro
Não é mesmo

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Consideração

Dormir com a cabeça cheia de idéias e a alma pesada é desgastante
Se engana quem pensa que o silêncio é sempre sábio.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Aprendizado

Vamos aprender a bater antes de entrar na vida dos outros
Vamos dar licença para a felicidade dos outros entrar
Quem é filho desta terra
Ganha flor de quem não conhece
E pedrada de quem afaga
Não só de sombra vive o homem
Trate sempre de iluminar o coração antes de fechar os olhos

domingo, 12 de outubro de 2008

Acabou a farra

Já senti todos os pesos do avesso
De quem acorda com a boca com o gosto de ontem
Já vesti a cara da noitada
Já fui da lua, de lua
Já voltei pra casa com a lua virada
Já pensei em ficar mesmo ali, sentada na calçada
Já peguei a noite pelas metades
Já roubei café do sol
Tive o escopo da felicidade
Encerrado no primeiro passo da ressaca
Pensei muito e senti pouco
Senti muito e pensei pouco
A euforia já se despede, vem raiando a luz do dia
Vou me adiantando, vou pra casa
A vida noturna é muito curta
Pra quem quer mais do que só a madrugada

Lá fora, todos os nomes são iguais

E a história é basicamente essa...talvez um só discurso e uma variedade enorme de bocas. Libido todo mundo tem de sobra, palavras ganham efeito sem grandes problemas em corações boêmios. O que a gente guarda, e que insistem por ai que temos que dividir, não cabe em corpos esbeltos, cabelos vistosos e olhares tão enigmáticos como o lugar comum. Queria saber em qual desses belos potes eu poderia depositar a confiança de uma vida. Queria saber em quantas curvas eu preciso me aventurar até encontrar uma alma cúmplice. O triste é que eu cismei que tenho um coração, só não faço uso.

Cautela

Entre todos os erros humanos, entre todas as coisas desumanas, talvez o pior erro, talvez a pior vala, escolher o ombro errado para chorar.

Infância

Crianças me embaraçam. Apesar de ter a benção de não carregar o fardo de grandes pecados, – se é que existe algo que mensure a dimensão de um pecado – o fato é que se elas me fitam com veemência, abaixo os olhos. Dizem que a pureza de uma criança é capaz de modificar as mais trágicas situações. Se através dos olhos elas se propõem a desarmar os outros, creio que isso seja uma verdade. Talvez o maior pecado seja amadurecer.

Rotina

Passam dias, passam horas
Meu café sem terminar
Sem terminar o que sobrou
Não sei por onde começar
Eu só eu naquele espelho
E o meu rosto está aqui
Alguém me disse que ia embora
Eu fiquei sentada ali
Alguém calçou meus sapatos
Alguém vestiu as minhas coisas
E eu procuro alguém sem nome
Às seis e meia da tarde
Não é pela rima, não é pelo tom
Mas dói, mas arde.

O dia após o outro

Fiz do muito um pouco caso
E por acaso vi o fim chegar
Peito machucado
Relógio estragado
Gavetas vazias
Minhas cores não têm mais neon
E qual não foi a minha surpresa
Mal percebi e tinha os olhos abertos
Era o fim do amor, não era o meu fim.