quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Prometo mudar antes do verão passar

Eu vou abrir um sorriso leve
No dia em que não notar seu vestido amarelo quando você passar
E vou passar sem tropeçar na calçada
Quando não precisar pensar em algo rápido pra te dizer
Não vou mais parecer tão tímida ou embaraçada
Quando te der bom dia sem vacilar
Eu vou saber todas as letras ditas sem precisar ensaiar
E vou embora sem decorar seu "oi" descompromissado
Sem repetir tortuosamente no pensamento cada movimento dos seus olhos
No dia em que te esquecer, prometo que tomo seu café
Passo ai na sua casa
Pra te dizer que gosto de você, mas já não sinto mais nada
Só não deixe o café esfriar
Nem deixe de me convidar até lá.

sábado, 22 de novembro de 2008

Eu não tenho uma Maria Rosa

Tem bem menos poesia o que eu te escrevo com meus olhos
Do que poesia feita à mão com capricho
Mão caprichosa que muito se importou em escrever
Mas que se limitou em te tocar.
Este sim, o poema mais belo que poderia lhe fazer.
Tivesse eu escrito no seu corpo
Com toda a inspiração do tato,
Não te deitavas hoje em outro leito
Nem eu gastava sentimento em letra.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Um carinho assim...

É quando se olha com muito cuidado que se percebe
Que independente de ser outono ou não
Toda árvore deixa algumas folhas no chão
E que quando o frio aperta na barriga,
A gente quase não nota um ventinho leve soprando no ouvido
Do mesmo jeito que quando o sol bate forte demais,
É quase impossível perceber que quem guarda o corpo é a sombra
E sem pedir muito mais, sem pedir nem mais meio minuto
Eu fico ali do canto
Eu fico sendo a folha que está para cair
Eu fico sendo o vento cheirando seu cabelo
Enquanto você se distrai com as manias alheias
Eu fico sendo a sombra que te guarda enquanto você se bronzeia

sábado, 15 de novembro de 2008

Tarde, cinema e pipoca

O dia mais solitário da minha vida teve sol
Teve vento na cara e qualquer coisa com o gosto doce de pudim na minha boca
O dia mais solitário da minha vida foi azul, não cinza
As pessoas passavam por mim sorrindo todas suas felicidades
As verdades tinham o mesmo gosto, meio doce e meio amargo
E as crianças continuavam gostando de bala de maçã verde e piscina
O ônibus passou atrasado, como sempre
Eu me esforcei pra esconder minha amargura quando precisei ceder assento a uma senhora
A temperatura ficou amena, sem previsões de chuva
Tudo seguia a mais perfeita ordem universal
E eu simplesmente acordei só.
Sem dramas, sem café, sem radiohead
Só.
Assim como a palavra é só.
Assim como tudo tem que ser como é.
A solidão é o que é. Não precisa dos floreios mórbidos da tristeza.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O amor do bobo pelo lobo

Ninguém pode ser mais carinhoso
Nem mais forte, nem mais doce, nem mais vil
Ninguém pode ser mais profano
Do que o lobo esguio que ama pela pele, pelos poros
Ninguém pode ser mais vulgar
Do que os que enfeitam o amor com mel e laços
Com palavras tão belas quanto ocas, quanto falsas
Que se vestem tão bem em sonoros disfarces
Que sede é essa que sente quem engana?
Que só bebe o que chora o bobo da corte
Quanto vício em decepções
Ninguém pode ser mais triste e nem mais insano
Do que o bobo que deu o pescoço como prêmio
A quem só ama com coração de pano

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Segundo todo clínico geral, o que a gente tem é virose

Quando a planta murcha e a gente continua comendo na mesa em que jaz o arranjo
Quando tudo que bate na gente é qualquer coisa, menos o coração
Quando a alma se sacode toda enquanto dorme o corpo
Quando o peito parece doer ao mero pressentimento de partida, mas não importa
Quando há que se buscar um remédio pra sei lá o que
Quando só o que agrada os ouvidos é aquela voz de dor de estômago e rouca
Quando a poesia de quem veste jeans barrento e não penteia cabelo é bonita
Quando a voz que dá bom dia está no pensamento e não ao lado
Quando o fim de tarde se veste para finados
Quando as cordas de violão estouram em lua cheia
Quando não há como terminar um poema mal começado
Vai passar, é virose

domingo, 2 de novembro de 2008

Interface

Existem dois tipos de agora
O que é contado pelos sentidos
Pelos pólos positivos e negativos
Pelos ruídos loucos
Doidos, vagos, embriagados
Dos sentimentos que têm medo do espelho
Que têm medo do medo
Que têm medo de se olharem e verem o pólo oposto
Assim foi quando o amor se viu na cara do ódio
E a calma no olhar do desespero.
O outro agora é dono dos dias que não existem
Do dia dos sentimentos rebelados
Que atiram seus espelhos pelas paredes
Que não tem mais nada que ver
A não ser o agora
Que não existe
Que nunca existiu
Nunca existiu
Nunca existiu
.
.
.
Sumiu.

03:30

Depois que a madrugada já tiver feito sua metade
Não há de sobrar um que não ouça
O uivado frio do lobo solitário
Até mesmo a trupe boêmia de gatos pretos
Há de deixar a malandragem pelas tabelas
Pra entender o que se passa
e por que de repente o tempo ficou tão frio
Dali a sete meses ele estará de volta
Pra mostrar que é senhor das horas não contadas

sábado, 1 de novembro de 2008

O dia que o céu chora

Céu nublado é casa vazia
É caminho pra destino ora torto, ora insosso
É morada de um agora vacilante
Dos errantes que têm medo da certeza
Céu nublado é da tristeza realeza
É Céu de quem tem saudades e não volta
De quem tem raiva e luta contra o perdão
Céu nublado é pra quem olha para baixo
Tem um vaso na janela
Esperando o céu abrir
Rosa vermelha não dá bom dia a céu apagado