quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Wilson Ranieri

Ontem eu gastei mais ou menos uns vinte minutos do meu tempo pra assistir um programa de moda. Alternava entre este e o canal de mesa redonda sobre futebol mineiro. Não vou saber (e nem pretendo) porque fugi tanto dos meus hábitos naquela tarde, que apesar de tão nublada, não me incomodou tanto. Eu já consegui me incomodar o suficiente com meus pensamentos nublados.

E talvez pro tempo não fechar ainda mais para minhas paranóias, decidi prestar atenção na dita “dramaticidade-leve-e-feminina” da coleção outono-inverno de Wilson Ranieri. E daí a vibe de versão acústica de “Toxic”, aquela cara de pessoa tímida e cheia de idéias e o propósito de traduzir o cotidiano em tecidos finos e rostos esbranquiçados, lindos e tristes, me puseram pensativa.

A vida da gente segue assim, quando fica em silêncio. Prefere dispensar o alvoroço e as cores excessivamente vibrantes do verão, que normalmente servem para realçar a necessidade que pessoas mal resolvidas têm de mostrar para o mundo que estão bem.

Não é que a leveza dramática de Ranieri seja mau sinal. Mas sou mais adepta a esses olhares simplistas sobre a realidade. As mulheres de Ranieri se vestem com tons pastéis e desfilam ao som melancólico de uma impossível Brtiney Spears acústica. São mais próximas das mulheres que tomam café num fim de tarde pensando no que deixaram por fazer no trabalho e no que está por fazer em casa. Das que acordam enjoadas porque sabem que vão menstruar. Das que seguem para o almoço com a amiga e para o dentista com o coração meio sofrido, meio calado de ciúmes de alguma ex que apareceu pra atormentar a relação. Ou até mesmo das que não têm coragem de perguntar a caminho do cinema a dois quais são mesmo as intenções daquela aluna nova, toda pra frente.

As mulheres leves e dramáticas daquele desfile são as que sustentam o peso da realidade com classe. Com a alma bem vestida. E ainda que eu não passe 24 horas de todos os meus dias agindo como uma delas, em um dia de muita alegria preferiria usar um daqueles vestidos com as alças assimétricas e estampas discretas. Não por achar que a felicidade não seja digna de cores mais fortes, mas pra fugir desse maldito clichê de sair gritando felicidade por ai. Quem grita felicidade não é feliz de verdade. Expor felicidade em excesso é fada-la ao fracasso. Estampas discretas são mais sensatas.