terça-feira, 30 de novembro de 2010

Sol a pino

Tinha um verão em uma cidade largada
E um vendedor de algodão doce em uma praça também apagada
No meio do nada tinha uma moça dentro de uma jardineira rosada
Muito bronze no corpo, pouco brilho nos olhos
Mas o suficiente para deixar a alma do vendedor agoniada
Ela tinha raiva da poeira que a rasteirinha espalhava
E imaginava amargurada uma areia macia e salgada
Ele veio do litoral e nunca conheceu brisa ou maresia
Que lhe deixasse leve como o andado daquela morena no calor dos condenados
Sem sorriso no rosto, ela queria algodão doce, mas não tinha dinheiro trocado
Ele lhe ofereceu um assim mesmo e de muito bom grado
Ela pegou com a mão dura, como se um favor tivesse aceitado
E foi embora com a boca doce, o peito seco e a cara fechada
Ele baixou os olhos, procurou o amor na poeira e viu que o bolso estava cheio de trocados