segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O fim de agosto e o começo de outro verão

Foi uma briga horrível. Ele disse tudo ao contrário do que queria e devia.
Ela chorou, esbravejou e, por fim, consentiu que o coração mudasse de cor e que a boca dele não tivesse mais gosto de fruta doce.
Que a boca dele não tivesse qualquer gosto que fosse.
E foram anos sem palavras, sem gritos, sem notícias e muita memória.
Até que um dia ele resolveu voltar.
Com a mesma dor e o mesmo sorriso bobo que carrega o cão com o rabo entre as pernas.
Quis se arrepender.
Quis entrar em casa.
Quis desfazer a mala e abraça-la na jardineira
Voltou para uma casa que não era sua
Encontrou um filho que não era seu
Enxergou nela um olhar que não reconheceu
Deixou rolar uma lágrima
Que sujou de negro o pombo branco que trazia nas mãos
Foi embora com o coração amarelado
E a cara toda borrada de carvão