segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Portas

Eu entro.
E não sei pedir licença.
e não é pedância,
é falta de jeito.
de traquejo.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Domingos

Um dia te conto. Um dia levo pra você um pedaço daquela torta da padaria na esquina da minha vó que eu sempre comento. Todo dia eu lembro do seu riso atrapalhado, engasgado no meio do café da manhã, quando eu escolhia o momento em que você mastigava pra fazer uma piada do vizinho, da vida, da sua prima forçada. Gosto também de lembrar de como você espalhava as migalhas de pão em cima da mesa quando queria me pedir alguma coisa, comentar alguma coisa difícil de dizer. Ou de como trancava a cara olhando para a janela quando eu te aborrecia e dizia que não era nada, apertando um guardanapo embolado. Fiz promessas, não cumpri. Falei que ia pagar a conta, atrasei. Mandei flores erradas, mas anotei certo a sua frase favorita e os trechos da música que você tanto ama. Escrevi uma bobeirinha no vapor do espelho e seu secador apagou. Você ligou de surpresa no trabalho e eu estava ocupada demais pra atender. Ai ficaram as coisas que eu fiquei de contar e não contei, o sabor da torta que você nunca provou, seu riso atrapalhado engasgando meu café da manhã, sua prima forçada ouvindo tudo que antes era tão difícil dizer, minha cara borrada de choro sem seu guardanapo amassado para secar. O amor que eu não disse perdido entre flores erradas, contas não pagas e promessas não cumpridas. Minha mesa ta cheia de migalhas que não são do seu pão.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

(...)

Vidas entre vírgulas, entre intervalos, entre ditos e não ditos.
Os diálogos, em sua maioria, cortados por reticências
incontáveis pontos disformes que moldam esse nosso abstrato.
E o que é abstrato não se define, né?
Porque não pode ser simples. Porque há uma gigantesca diferença entre o que é, o que poderia ser, o que já foi, o que deveria ser e por ai vai...
Palavras, a falta delas, a realidade, a vontade, a realização. uma vida. e uma outra vida. unidas por uma interrogação.

O corpo (des)humano

O sangue corre quando o coração bate
e o corpo sangra quando o coração fere
Mas quando a razão se suja de sangue
O coração baderneiro não sabe drenar a sujeira que fez.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O beberrão

De boca seca, peito vacilante e um falso olhar reticente
buscou o que beber.
Cerveja hoje não. Cerveja é só farra, só sorriso. Caso contrário, o porre chato no colo da boemia.
Pediu whisky. Dessa vez não era puro, veio com gelo. Pouco, mas ainda assim, gelo.
Desatou o nó na garganta.
Suavizou o impacto do gosto seco que a vida deixa na boca.
De não saber o que é sentimento e o que é sensação. O que é bom e o que é mau presságio. O malte reforça o que dói, mas esclarece o que é dúvida.
Não era dia de beber cerveja, não era pra refrescar.
Bebeu um whisky pra conversar consigo. Brindar consigo. E nada mais.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O coração

pulsar antes de bater.
ou apanhar.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Poeira

Quando a ventania passou, quis limpar a calçada
Tirar a sujeira
limpar onde pisava
só que o vento foi embora, mas também levou o chão.
Não sabia mais onde pisava
Não tinha certeza do que limpar.