quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O gavião e a galinha.

Certa vez vi um filme em que um gavião matava uma galinha no meio de uma floresta de árvores com folhas secas e muita neblina. Macabro como um pesadelo. Se me falassem para rasurar um pesadelo no papel (como se alguém fosse me pedir isso), desenharia um espelho quebrado com a sombra de uma criança chorando. Lembranças ruins sempre se escondem em espelhos partidos e crianças não combinam com choro, por mais que chorem com frequência. Nada de insetos, cobras, monstros, diabos. Não. O espelho partido e uma criança chorosa. Se encaixa na vida de qualquer um, tenho certeza. Nunca entendi a associação entre infância e alegria.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

farinha, pó, farelo ou o que seja...

Estranho mesmo é entender moinhos
Fazer do vento suave o motor pra moer tudo
Acabar com tudo
E aproveitar o resultado disso

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Maré

Fechar os olhos pra sentir a areia e não sentir mais nada
Água fria e pesada. Salgada.
Tirar o ranço da rotina no peso do mar.
O mar pesado que alivia.
O peso do corpo que vira marola
Virar ao avesso na maré
Deixar a maré bater e voltar.
Me limpar.
A maresia ardendo os olhos e salgando a boca seca de tanta poeira.
Eu e o mar.

"Quando eu morrer, voltarei para buscar os instantes que não vivi junto do mar"

">

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

In the morning

Like a tiger sharping its claws...
or
just stretching
Scratching
And falling asleep again.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Infância

E daí o vento de tarde de verão me fez cochilar. O mesmo ar em movimento que chacoalhou coisas que eu sequer lembrava que estavam guardadas. O cheiro de terra que ficava em minhas roupas (ainda infantis) quando era recebida no quintal por um animal que tinha quase o mesmo tamanho que eu. Comer caju em cima da máquina de lavar roupa. Conversar com o gato e imaginar o que ele iria responder. Jogar bola com o primo, montar lego com o amigo. O cunhado irmão. Medo do verde, de lagartas. Ouvir o barulho do portão bater forte. Ajudar o pai. Ignorar o irmão quebrando a casa. Medo do que via e ouvia. É, começou bem, mas acho que não senti saudade.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Sem título

Amanheci sem olhar a previsão do tempo lá fora. Comprei pães, esqueci de comer. Perguntei as horas na rua e não prestei atenção na resposta. Me atrasei. Perdi o ônibus e peguei outro errado. O caminho diferente me pareceu melhor do que o meu. Bati ponto (disseram que eu trabalhei). Não gosto de sombras. Lembrei de um sorriso ao lado do meu na hora de acordar. Sorri. Encontrei um amigo antigo e tive preguiça de lhe perguntar sobre seu passado/presente/futuro. Descobri que não gosto de falar sobre a minha vida. Prefiro tomar suco de laranja e observar as pessoas mexendo suas bocas. Raramente presto atenção no que dizem. Acho desnecessário saber o que acontece na vida alheia. Olhei minhas redes sociais com o mesmo ânimo de alguém que tira o dia para ver o sinal de trânsito abrir e fechar. Vi um cachorro brincando na rua e lembrei de uma coleira na minha gaveta. Lembrei da quantidade de vidas que guardo na gaveta. Separei as amarelas das vivas. Tenho variado pouco os tipos de comida. Parei de emagrecer. A quantidade de vezes em que meu pai tem aparecido nos meus pensamentos chama-se preocupação. Sinto muita coisa ao mesmo tempo. Misturei tempos verbais na mistura de divagações. Escrevi sem pensar, sem me inspirar. Pelo menos não me engasguei.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Joe

Eu choro hoje
E chorarei quantas vezes ainda julgar necessárias
Vou sofrer tudo que você
Com seu carinho infinito
Não merecia sofrer
Descansa. Dorme.