domingo, 22 de março de 2015

Eu sempre quis ver uma aurora boreal

Eu sempre quis ver uma aurora boreal. Sempre tive a curiosidade de saber como meu coração iria bater vendo o céu tão vivo e mutante diante dos meus olhos. Olhar para cima e acompanhar aquele espetáculo de cores vivas, transitórias, vibrantes, se dissipando depois de um espetáculo de tirar o fôlego. Sempre me imaginei assim, olhando estática para cima, com pouco fôlego. Sempre gostei de perder o fôlego com tudo na vida. Sempre acreditei em emoções fortes. Me sentir viva por conhecer essa força me dando impulso. Viver aquele amor foi como sentir a aurora boreal que eu sempre quis conhecer. Tudo vibrava e mudava de tom dentro de mim constantemente e eu me sentia boquiaberta o tempo todo. Como se cada momento mágico fosse mesmo parte de um sonho vivo. Como se o céu mudasse de cor dentro de mim o tempo todo. Me lembro bem do dia em que saí de casa para usar o computador emprestado. Estava com pressa, arrumei mal o cabelo e dei um jeito com uma maquiagem improvisada. Faria online uma entrevista que mudaria a minha vida. Estava confiante e sentia que daríamos um grande passo a partir dali. Momentos depois veio um buraco no chão que provavelmente era tão profundo como um buraco negro. Pelo menos para mim parecia ser. As dúvidas, o tal do “agora” que parecia não ter conexão com todos os planos feitos durante praticamente dois anos, o tempo. Essa palavra medonha que só servia para amenizar o que realmente estava para acontecer e eu simplesmente não podia acreditar. Ao contrário de tudo que pensava, de tudo que poderia imaginar e planejava, aquele amor estava indo embora. E não era comigo. Por mais que essa porta estivesse aberta, o rumo escolhido foi outro. Eu não me conformava, eu não acreditava que aquela ruptura pudesse perdurar, eu não acreditava que a saída escolhida fosse realmente botar um fim em tudo que tinha sido tão lindo e ainda tinha tanto para crescer. Sim, naquela época esse amor não tinha fé nisso, mas eu tenho plena certeza de tudo de bom e gostoso que ainda estaria por vir. O início do fim foi duro e eu permanecia incrédula. Acreditava que em algum momento uma mudança aconteceria, que algo de bom viria e esse amor voltaria a ser real, de acordar ao lado e tomar café bem quente e fresquinho. Acreditava que voltaria a ser palpável e maravilhoso, não tinha como algo tão bom se transformar em uma dor tão grande. Ai veio aquela última visita. E tudo parecia tão confuso. As vezes eu reconhecia a pessoa que esteve ao meu lado por todo esse tempo, em outros momentos ela simplesmente não estava lá. E ai eu fui embora. Dessa vez sem aquele choro dentro do carro do dia em que a deixei no antigo emprego pela última vez, nem a intensidade do abraço na despedida no aeroporto. Ela iria ao trabalho e eu iria voltar para a nova cidade. Um beijo na porta de casa como se a gente fosse encontrar de novo em breve, no fim do expediente, num cineminha fora de hora. Acho que ninguém tinha real ciência do que realmente estava acontecendo. Eu estava mesmo indo embora. Nunca mais nos vimos. Ficou para trás um brilho labial, um livro que deixei de presente e levei comigo minha bagagem, as lembranças de uma visita intrigante e uma infinidade de dúvidas. Ser forte não foi questão de escolha, foi necessidade. Tanta coisa aconteceu depois disso que eu não tinha tempo suficiente para digerir tudo e entender o que realmente tinha acontecido. Nada foi fácil naquele ano. Meses depois eu ainda sentiria, além do medo, um outro sentido para a palavra perda. Veria, muito de perto, um outro grande amor – de minha segunda mãe – partir para o outro lado da vida. E não adianta nem tentar dizer o que isso representa. Estaria ciente do que isso representou para mim quem pudesse entrar na minha alma e sentir o pedaço que me foi arrancado para nunca mais ser devolvido. Não me revoltei com essa partida, mas a saudade maltrata. E naqueles tempos de viver uma aurora boreal ao lado do amor eu sempre imaginei que teria dela o colo, o ombro, o choro livre e espontâneo até pegar no sono em um momento como esse. Não que isso fosse diminuir a dor que eu senti, mas faria muita diferença. Ninguém pode prever o momento em que a morte chega, mas ela invadiu a minha vida sem aviso prévio e eu imagino que teria sido menos duro encara-la de frente se aquele amor estivesse por perto. Não foi culpa dela, não foi minha culpa, mas enfim, fez falta. Sobrevivi a isso também. O fato é que depois de tanta tormenta, de viver todo um inferno de dores de tamanhos e formatos diferentes, todas ao mesmo tempo, eu estou aqui. Viva para contar essa história. Mudamos, o tempo passou, moldou, machucou, modificou. E muita coisa dentro de mim não se encaixa muito bem, mas o certo é que eu atravessei esse mar de intensidades e provas como outra pessoa. O silêncio tomou conta de mim por muito tempo. E lá atrás tudo que eu não imaginava era o silêncio. Minha vida era um grito intenso de uma felicidade que me motivava, me inspirava e deixava o mundo mais lindo e mais leve. Talvez o grito tenha sido intenso demais e o silêncio tenha se sentido no direito de tomar seu espaço também. Vivi um lado cinzento da vida, mas tive a graça de encontrar o lado bom também. Se a vida maltratava, a cidade nova me acolhia. Os novos ares, o amigo de infância que veio experimentar a vida aqui também, um outro amigo que retornou, as novas amizades que fizeram e fazem tão bem, as amizades que estavam distantes e se estreitaram com a nova capital. Sei que ainda há muito por vir e espero encontrar mais surpresas agradáveis daqui em diante. Algo que me deixe boquiaberta como uma aurora boreal. O silêncio ficou o tempo que precisava ficar, mas não o suficiente para me sufocar de vez. Era preciso dizer algo, ainda que para mim mesma.Colocar para fora para respirar melhor. Olhar para essas palavras e entender que tudo isso estava aqui dentro. Ao lado de fora elas olham para mim e esperam o novo passo, o novo capítulo dessa vida imprevisível e avassaladora. Já me senti flutuando de felicidade no passado, já senti o peso das dores diversas me forçando a firmar os pés no chão. Se não for pedir muito, quero um meio termo que seja. Para sonhar com aurora boreal de vez em quando, mas sabendo que os dias comuns podem ser nublados.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Palavras cassadas

Silenciei as palavras de mim porque não encontro o significado. Está tudo emaranhado. Aqui dentro o silêncio diz algo que eu ainda não sei entender. Por fora, o peito segue calado.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Ciclos

Nem tudo que se escreve é poético, ainda que o pensamento seja. Há poesias que não deviam ser ditas para não serem sentidas. E mesmo caladas, você as sente. E as diz para si mesma. Mesmo calada. O silêncio só se cala por fora. E sempre diz tudo por dentro.

domingo, 8 de setembro de 2013

Dos fatos:

O lado de fora da gente é o que no dicionário preferem chamar de incerto.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Não é saudade, mas não sei qual é o nome.

Sabe aquele nome que todo mundo (ou quase todo mundo) costuma ter na família que, se for dito, gera um mal estar, um clima tenso? Com essa parte eu aprendi a lidar. Mas o que acontece quando esse nome vai parar na inscrição de uma lápide? Como que a gente tem que se sentir? O sentimentos da família inteira agora são pedaços de um vaso partido há muito tempo. Uns mais inteiros, outros mais rachados. Ainda não catei minha parte dos cacos para dar nome ao que estou sentindo. Não sei o que é. Não chorei de saudade, mas sim de angústia. Esperei um pedido de perdão que nunca veio. Teve quem precisasse desse perdão ainda mais que eu. Admito, não busquei esse perdão, não procurei entender as razões e as explicações para uma personalidade sempre tão misteriosa, distante e que sempre me causou tanto medo. Não entendia a raiva que via naqueles olhos. Que ecoava nas palavras ríspidas e que sempre faziam tanta questão de afastar todo mundo. Não desejo mal, mas já senti muita raiva e já sofri demais por tudo que vi e ouvi a respeito do nome tabu. Agora é mais do que não desejar mal. Desejo paz, luz, redenção e o que mais couber nesse sentido. Quero que ele sinta pelo menos uma vez, mesmo já do outro lado, uma paz que ele sempre rejeitou. Chega de sofrimento. Já basta as perguntas que ninguém vai conseguir responder. Não tem mais nada em jogo. Acabou. Que Deus te olhe.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O gavião e a galinha.

Certa vez vi um filme em que um gavião matava uma galinha no meio de uma floresta de árvores com folhas secas e muita neblina. Macabro como um pesadelo. Se me falassem para rasurar um pesadelo no papel (como se alguém fosse me pedir isso), desenharia um espelho quebrado com a sombra de uma criança chorando. Lembranças ruins sempre se escondem em espelhos partidos e crianças não combinam com choro, por mais que chorem com frequência. Nada de insetos, cobras, monstros, diabos. Não. O espelho partido e uma criança chorosa. Se encaixa na vida de qualquer um, tenho certeza. Nunca entendi a associação entre infância e alegria.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

farinha, pó, farelo ou o que seja...

Estranho mesmo é entender moinhos
Fazer do vento suave o motor pra moer tudo
Acabar com tudo
E aproveitar o resultado disso