quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Domingos

Um dia te conto. Um dia levo pra você um pedaço daquela torta da padaria na esquina da minha vó que eu sempre comento. Todo dia eu lembro do seu riso atrapalhado, engasgado no meio do café da manhã, quando eu escolhia o momento em que você mastigava pra fazer uma piada do vizinho, da vida, da sua prima forçada. Gosto também de lembrar de como você espalhava as migalhas de pão em cima da mesa quando queria me pedir alguma coisa, comentar alguma coisa difícil de dizer. Ou de como trancava a cara olhando para a janela quando eu te aborrecia e dizia que não era nada, apertando um guardanapo embolado. Fiz promessas, não cumpri. Falei que ia pagar a conta, atrasei. Mandei flores erradas, mas anotei certo a sua frase favorita e os trechos da música que você tanto ama. Escrevi uma bobeirinha no vapor do espelho e seu secador apagou. Você ligou de surpresa no trabalho e eu estava ocupada demais pra atender. Ai ficaram as coisas que eu fiquei de contar e não contei, o sabor da torta que você nunca provou, seu riso atrapalhado engasgando meu café da manhã, sua prima forçada ouvindo tudo que antes era tão difícil dizer, minha cara borrada de choro sem seu guardanapo amassado para secar. O amor que eu não disse perdido entre flores erradas, contas não pagas e promessas não cumpridas. Minha mesa ta cheia de migalhas que não são do seu pão.

Nenhum comentário: